Iniciados no final do ano passado após um período de testes, os passeios turísticos no Ramal de Cáceres, entre Marvão-Beirã e Castelo de Vide, deverão ter grande incremento a partir desta Primavera.
Tudo começou em 2017 quando a IP Património (IPP) lançou um procedimento para a subconcessão da exploração de uma atividade de animação turística no troço do Ramal de Cáceres entre as estações de Castelo de Vide e de Marvão-Beirã (km 223,421 ao km 238,872), recorrendo à utilização de veículos tipo ‘railbike’ na plataforma de via férrea, um projeto inovador em Portugal.
Inaugurado em 1880, o ramal que faz a ligação entre Torre das Vargens, no concelho de Ponte de Sor e Beirã, a escassos quilómetros da fronteira, foi encerrado em agosto de 2012 acabando com a ligação mais curta por caminho-de-ferro entre Lisboa e Madrid, feita durante décadas pelo comboio Lusitânia. Agora, com os veículos ‘railbike’, tornou-se possível percorrer mais de 15 quilómetros nos carris, graças ao dispositivo movido a pedais, e viajar no corredor ferroviário a baixa velocidade tendo um acesso privilegiado a toda a paisagem envolvente.
“Foi um processo longo e difícil até conseguirmos esta subconcessão por um período de oito anos”, dizem-nos Susana Torgal e o neozelandês Leonard Macleod que dirigem esta empresa turística. “Autorizações, burocracia, pensar um projeto pioneiro entre nós, apresentar um protótipo desta espécie de bicicleta adaptada aos carris, encomendar o material por peças dos Estados Unidos, realizar os testes, enfim, inúmeros trabalhos até à realização das primeiras viagens em outubro do ano passado.”
“Não é uma invenção nossa pois veículos semelhantes existem já em varios países para dar uma segunda vida a linhas férreas sem uso. E aqui tínhamos uma via em bom estado que atravessa um parque natural, o que muito nos agradou”, explica Susana que enaltece ainda as vantagens desta atividade desportiva, lúdica e de contacto com a natureza.
Susana e Leonard conheceram-se em Barcelona, onde ela trabalhou durante anos como tradutora, antes do regresso a Lisboa para gerir um restaurante. A lufa-lufa da capital foi uma das razões que a levou a deixar Lisboa e a abraçar este projeto.
“O início do negócio tem tido reflexos positivos e um vídeo que colocámos no Facebook já teve quase 45 mil visualizações”, afirma Susana. “A maioria dos utlizadores têm sido portugueses da região, mas também outros que vêm de propósito, por exemplo de Lisboa, e que se hospedam aqui em Beirã ou em Castelo de Vide (Train Spot Guest House e Pensão Destino, alojamentos turísticos localizados nas antigas estações e que foram subconcessionados pela IPP). E também da raia espanhola, nomeadamente após a reportagem realizada pelo diário ‘Hoy’, de Badajoz.”
“Agora, no Carnaval, abrimos também o bar (situado no antigo Cais Coberto) que, na temporada baixa, funcionará de sexta a domingo. Todo o espaço foi recuperado e decorado, aproveitando as madeiras existentes.”
Com esta espécie de bicicletas adaptadas aos carris, os turistas percorrem pedalando o troço desativado, atravessando o Parque Natural da Serra de São Mamede, área protegida e de grande beleza paisagística, repleta de carvalhos, castanheiros, sobreiros, azinheiras, enquanto no céu planam, tranquilos, grifos, milhafres e águias perdigueiras.
“É um percurso lindíssimo, em plena natureza, com pontos incríveis como uma ponte com cerca de 30 metros de altura a metade do caminho (Ponte da Ribeira de Vide, com um vão de 108 metros)”, acrescenta, entusiasmada, Susana Torgal.
Guardados no Cais Coberto da Beirã que serve de apoio a toda a operação comercial e onde são recebidos os viajantes, estão seis veículos do tipo ‘railbike’ (cada um pode levar dois passageiros). Os passeios são sempre acompanhados por um guía (Susana ou Leonard), até porque há que garantir, em segurança, o atravessamento das antigas passagens de nível existentes no percurso. São também os concessionários que asseguram a limpeza e desmatação do canal ferroviário.
Dois percursos estão disponíveis – um com 15km (ida e volta), que dura duas horas (20 euros/pessoa), e o outro, com um total de cerca de 32km, de Beirã a Castelo de Vide e regresso, entre cinco a seis horas (45 euros/pessoa, o que já inclui paragem para almoço/piquenique no campo).
“Gostaríamos de vir a poder realizar também passeios transfronteiriços, o que enriqueceria muito esta experiência, ampliando a viagem para lá da fronteira espanhola que dista sete quilómetros de Marvão-Beirã e envolvendo um parceiro do país vizinho”, adianta Susana antevendo, quiçá, um futuro próximo.
Site Rail Bike Marvão; Facebook railbikemarvao; E-mail; Telemóvel (+351) 912 987 639.

